Contudo, segue tomando conta da casa, da comida e de seu ofício, que aprendera ainda criança escondida do pai Antônio Alves Pereira. "Ele não queria que eu trabalhasse no barro igual à mãe dele", recorda. Branca nunca se deu por vencida. Após a roça e a escola, sempre pedia um pedacinho de barro à avó Raimunda Alves de Souza, chamada de mãe Munda. Começou a criar as primeiras panelinhas
Porém, segundo ela, a avó não gostava de barro feito por "menino" e faltava-lhe paciência para ensiná-la. Branca, então, recorreu à tia e madrinha Maria Preta: "Ela endireitava minhas panelinhas e numa semana eu aprendi a trabalhar".
Quando o pai de Branca percebeu que não adiantava impedi-la de mexer com barro, pediu que a menina passasse a fazer peças maiores. "Nesse dia, parece que subi no céu", lembra a felicidade diante da permissão paterna.
A partir daí, suas peças começaram a ser comercializadas nas feiras do Ipu e no Piauí, para onde Antônio viajava de jumento. Quando voltava, ele trazia outras mercadorias para vender na região.
Por alguns anos, trabalhou ajudando no sustento da família. Dos cinco dias de produção, somente a quarta-feira era para si. Fazia a cerâmica e saía com as peças na cabeça para vendê-las na feira. Enfrentava sol, poeira e o mato estrada afora, percorria cerca de seis quilômetros.
Devido às dificuldades da época, Branca estudou só até a 3ª série primária. Deixou a escola para se casar, aos 15 anos, com o agricultor e primo legítimo Raimundo Alves Paiva. Com ele, teve 12 filhos. Desses, seis mulheres, que vivem apenas do barro.
Desde 2005, é Mestra da Cultura, pelo qual recebe por mês um salário mínimo do Governo do Estado. "Foi muito bom, minha vida mudou. Fiquei mais conhecida". Os encontros dos mestres cearenses são uma diversão para a artesã, que quase não deixa o Sítio Alegria.
(Diário do Nordeste de 20/03/2010)